O Cerrado - Dezembro/2002
Categoria:
Editorial
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Chacina fashion ou retrato da realidade?
Por Clóvis Henrique
Uns dizem que o filme de Fernando Meirelles, Cidade de Deus, é um retrato da guerra civil vivida nos morros cariocas outros o chamam de “chacina fashion”. No entanto, é inegável sua contribuição para a discussão de uma temática ao mesmo tempo tão presente e tão distante, a violência urbana.
Embora há quem diga que Cidade de Deus tenha se tornado puro entretenimento e lembre filmes de ação de Hollywood, acredito que existem importantes reflexões que saltam da tela. O que há em torno da tão falada violência? É possível eliminar a violência com grades altas, carros blindados e polícia nas ruas? O que acontecerá se continuarmos encarando a violência como algo não afeto a nós?
A Cidade de Deus fica no Rio de Janeiro, era para ser um local isolado, distante da área nobre do lindo Rio, no entanto com o crescimento do agrupamento urbano o inferno chegou ao céu ou o céu chegou ao inferno. O que interessa é que o conjunto habitacional criado pela prefeitura para abrigar pessoas pobres, espaço parecido com o que os governantes do planalto central chamam de assentamento, acabou crescendo e tornando-se um incômodo. O “depósito” cresceu e ficou lado a lado com arranha-céus.
A cidade partida entre asfalto e favela parece que se juntou e a violência, antes problema apenas de pobres e de páginas policiais, começou a tomar conta do noticiário e as pessoas mais abastadas começaram a sentir na pele o problema. O medo passou a ser senso comum. E o filme? O filme trouxe o lado de quem vive no morro e convive com cenas de violência na porta de casa e não apenas nas telas de cinema. O problema, em minha opinião, foi ter apenas mostrado esta face da Cidade de Deus. A vida da comunidade, as alternativas ao crime, o povo trabalhador e honesto passa pela tangente do enquadramento da câmera e também fica fora do mundo fashion dos festivais e dos prêmios que o filme recebeu.
MV Bill, rapper da favela agora famosa com o filme, disse que com a repercussão dada à obra, a área fica estigmatizada e afasta ainda mais as pessoas. Quem teria, após o filme, coragem de ir ao local? Essa pergunta reflete a distância que queremos dos problemas sociais e que o filme pode, infelizmente, ter colaborado a perpetuar.
Se o filme banaliza a violência, talvez seja uma oportunidade para irmos mais além, precisamos enxergar nas entrelinhas, ou melhor, entre películas. Não é possível esquecermos este problema social, está mesmo na hora dele entrar no shopping center e fazer os grandes responsáveis por esta questão pensarem nisso. Pena que nem todo mundo quer enxergar entre películas.
Um convite à ação
Por Clóvis Henrique
Difícil alguém não ter ao menos ouvido falar no filme de Fernando Meirelles, Cidade de Deus. Baseado no romance homônimo de Paulo Lins, o filme retrata a realidade social vivida por milhões de brasileiros: a exclusão.
Trazendo no enredo a evolução do crime organizado neste bairro do Rio de Janeiro, o filme nos faz pensar até quando iremos aceitar tamanha barbárie tão perto de nós. E essa é uma das várias contribuições do filme: trazer para dentro do templo do conforto e segurança, o shopping center, a realidade muitas vezes desconhecida por aqueles que geram a desigualdade e escondem-se para se protegerem do fruto de seu individualismo.
Barbárie. Desumanidade. A vida parece valer nada ou quase nada quando assistimos Cidade de Deus e vemos cenas fortes que acontecem nas esquinas das grandes cidades brasileiras, ultimamente tomadas pelo medo. Essas cenas de violência são retratadas nos noticiários diários e muitas vezes são desconexas do contexto em que se inserem por conta da pasteurização empregada na grande mídia. No entanto, no filme podemos ver refletidas nas telas vidas de pessoas simples que por total descaso de cada um nós acabam envolvendo-se com o crime.
Digo descaso de cada um, pois não eliminaremos o tráfico e a violência com repressão policial. Se continuarmos aceitando que o único órgão do Estado que suba o morro seja a polícia, podemos ter certeza que esta guerra civil não terá fim. E também não devemos pensar que o acaso nos trará perspectivas de transformação como o fez com Buscapé, protagonista da obra em tela.
Complicado enxergar com uma máquina fotográfica caída do céu nas mãos de um garoto da Cidade de Deus, pode ser encarada como uma alternativa. Buscapé contou com a sorte e teve novas perspectivas quando tornou-se fotógrafo de um jornal, mas o acaso vivido por ele nem sempre ocorre na vida da maioria dos garotos excluídos.
O que os Buscapés, Dadinhos, Manés Galinha e Zés Pequenos precisam não é da proteção do acaso e sim de oportunidades reais para a transformação. Oportunidade e não caridade. Os excluídos brasileiros agradecem nossa predisposição à esta troca de conceitos. Fica aqui minha idéia do filme e o convite à ação. Que tal levantarmos da poltrona confortável do cinema e tornarmo-nos protagonistas da transformação social que nosso país precisa?
Eleita a nova ERP- DF
No dia 27 de novembro deste ano foi eleita a nova ERP-DF, gestão 2003, durante a Assembléia Regional Pioneira. O Cerrado parabeniza os novos componentes que são: Cárita (9º DF), Kiko (8º DF) e Gabriel (1º DF). Desejamos bastante sucesso na gestão!
>Que corra pelas listas, que rompa as fronteiras, que chegue a todo o mundo<
"Nós somos novos, mas somos aqueles mesmos de sempre." (Subcomandante Marcos) Há muito tempo, nossos avós viviam nas mesmas cavernas. Trabalhando juntos, eles inventaram a roda e o fogo. Com o passar dos tempos, fomos nos globalizando, e nossa comunidade se espalhou por todo o mundo. Alguma coisa deu errado no meio do caminho. Deixamos que alguns tomassem conta do trabalho que sempre fizemos. Com certeza, não era o que esperávamos quando inventamos a roda. Agora chega! A administração que eles fizeram no mundo nesses séculos todos foi um desastre. Esgotaram os recursos naturais do planeta, reduziram o número de sistemas técnicos num movimento de unificação que serviu de base para a globalização capitalista. Fizeram da educação, da água e da vida uma mercadoria, das diferenças culturais e religiosas, justificativas para uma idéia de guerra mundial permanente. De 18 a 29 de janeiro temos em Porto Alegre, mais uma reunião de nossa comunidade. Lutadores e lutadoras de todo o mundo, unamo-nos. É um momento que temos para pensar diferente do que querem nos fazer pensar. Estamos cansados de Adam Smith se repetindo como farsa e não temos mais tempo para ficar ouvindo eles dizerem como devemos fazer aquilo que na verdade sempre fizemos, e de forma muito melhor, mais limpa e mais justa. Ao mesmo tempo, nesses onze dias, vamos estar também vivendo diferente. Não porque precisemos provar nada a eles, mas porque somos assim: nossa prática é diferente. Somos as agricultoras que se organizam, os trabalhadores que viraram seus próprios patrões. Somos os que não vendo verdade no que nos contam, contamos outras verdades. A diversidade e a pluralidade são a essência da nossa força e não justificativas para nos destruir. Somos tantos e tão diferentes que não cabemos nesta página. O FSM e o Acampamento são um processo, não eventos, e esse processo somos nós. Ao invés de algo que acontece anualmente, trata-se do lento cultivo da articulação desses outros mundos que coexistem. Somos um movimento de movimentos, e qualquer lugar onde os nossos encontros acontecerem será uma Cidade das Cidades - esse é o nome não de um lugar, mas da nossa reunião. A Cidade das Cidades pretende ser uma cidade da nova sociedade e de uma nova forma de fazer política. Uma cidade sem muros e sem poder instituído. Um espaço para re-invensão do mundo, onde os limites são a liberdade de cada um e do coletivo. A Cidade das Cidades como representação do global inserido no local e o local inserido no global. A primavera dos povos não começa em parte alguma, pelo contrário, começa em toda parte, em cada lugar, onde hoje, homens e mulheres estão experimentando maneiras de se organizar em sociedade em que se privilegia a vida e o humano, ao invés do material e do capital. Ao mesmo tempo, o mundo olha para Porto Alegre esperando ver sinais de uma nova primavera, e eles de fato se apresentam aqui. Nos últimos dois anos, este foi um dos lugares para onde todos se voltaram para ver de fato que outros mundos não só são possíveis, como estão sendo gestados hoje. O presente está prenhe de futuro, e o futuro dura muito tempo. Um vírus se espalha pelo mundo, e esse vírus somos nós. Espirrai, senhores do mundo? Há de ser o pólen que vos irrita as narinas. A primavera está chegando, a primavera já chegou, é primavera.Pensar enlouquece... Pense!
Colaborou: Mateus Fernandes
"Se sonhar um pouco é perigoso
A solução não é sonhar menos
É sonhar mais." Marcel Proust.
"O pessimista reclama do vento
O otimista espera que ele mude
E o realista ajusta as velas." Provérbio Chinês
"O insucesso é apenas uma oportunidade
Para começar de novo,
Com mais inteligência." Henry Ford
Erratas
Na edição passada, não encontramos nenhum erro crasso. Isso não quer dizer que não existam. Qualquer leitor que notar, está convidado a nos advertir. Não se preocupem, este espaço está aqui para isso mesmo...
Equipe de O Cerrado:
Ramo Sênior – Carolina Torres, Felipe Rabelo
Ramo Pioneiro –Danilo Pires e Enos de Souza.
Colaboradores - Jefferson Matos, Marcelo Xaud, Clóvis Henrique e Thiara Torres.