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Desejamos a Todos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!
São os votos da Equipe de O Cerrado.
Por Clóvis Henrique e
Danilo Farias
Entrevistamos no dia 05/12/00 o dirigente Alessandro Garcia Vieira, da Região Escoteira do DF. Veja o que ele nos disse...
Ficha Técnica
Nome: Alessandro Garcia Vieira
Formação: Bacharel em Direito, Pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior.
Família: Casado com Tatiana (Psicóloga) e pai de Guilherme.
Profissão: Servidor Público Federal. Preside a Comissão Permanente Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça.
Hobby: Música. É instrumentista e compositor.
Tempo no escotismo: Ingressou como Lobinho, em 1977.
Cargo: Atualmente é Diretor Técnico da Região do DF. A partir de janeiro de 2001 assume o cargo de Diretor Presidente da Região.
Principais cargos que ocupou no Escotismo: Coordenador Regional do Ramo Escoteiro, Coordenador da Equipe Regional de Formação e Executivo Nacional da UEB, dentre outros.
Grupo Escoteiro: Sempre foi do Caio Martins - 6º DF.
Melhor Atividade: Um acampamento de Tropa, como Escoteiro.
Formação Escoteira: Tem o que até pouco tempo se denominava CTF2 – Curso de Técnicas de Formação Nível 2. Nomeado DCIM – Diretor de Curso de Insígnia da Madeira.
Entrevista
O Cerrado: Qual o seu balanço do Escotismo brasileiro nos dias de hoje?
Alessandro: Acho que nós vivemos uma situação de pouco envolvimento das Regiões no processo decisório. Isso é algo que nos preocupa bastante, até porque somos um movimento essencialmente democrático e participativo em sua essência. Acredito que precisamos ampliar esse processo de participação e discussão no que diz respeito à tomada de decisões. Isso é importante para que tenhamos um Escotismo que realmente atenda às necessidades das diversas Regiões escoteiras do país. Temos uma diversidade muito grande e o Escotismo precisa ser adaptado às realidades culturais e socio-econômicas de cada estado de nosso país. Sem a ampliação do processo de discussão corremos o risco de ter um Escotismo que não atende às necessidades de cada canto desse Brasil, que tem dimensões continentais.
O Cerrado: E você nota algum progresso nisso ou há retrocesso?
Alessandro: Quando, em 1994, fizemos a reforma do estatuto, nós optamos por esse modelo de gestão. Tínhamos uma situação onde se tomavam as decisões com ampla participação, mas isto era muito questionado pois demorava-se um pouco para se tomar algumas decisões. O preço que se pagava por ter um processo participativo mais intenso era o preço de uma certa morosidade. Acredito que temos condição de trabalhar numa situação híbrida, quer dizer, não ter aquela suposta morosidade, mas também ter tão pouca participação. Há como aliar democracia com rapidez e nós precisamos partir para isto. A impressão que tenho é que a UEB está avançando neste sentido. Recentemente estivemos conversando com o Diretor Presidente eleito do Conselho de Administração Nacional, Rubem Tadeu, e ele tem ótimas idéias em termos da participação e envolvimento de todos os segmentos do Escotismo Nacional nesta grande discussão. Temos grandes perspectivas de melhoria nesse aspecto.
O Cerrado: Temos uma taxa de evasão altíssima e nosso efetivo vem decrescendo. Como você vê essa situação?
Alessandro: Temos uma evasão alta e mesmo assim o Movimento continua vivo. Isto é até surpreendente. Temos também um nível de adesão muito grande. Nós crescíamos até 1994 a uma taxa média de 10% ao ano, o que é uma taxa muito boa de crescimento. Precisamos pensar nessa nossa estrutura de gestão, porque se nós estamos bem geridos e organizados, temos condição de crescer. E o crescimento passa necessariamente por uma questão de qualidade. Com a melhoria na qualidade do programa que oferecemos, teremos perspectivas de melhora.
O Cerrado: Ao que você atribuiria o fato de nosso efetivo ser renovado a cada ano em cerca de 1/3?
Alessandro: Acho que são vários os fatores. Temos uma deficiência no processo de gestão de nossos adultos e temos uma deficiência em nosso programa de jovens. Isso deixa de atrair, quer dizer, as pessoas vêm, participam do Movimento um certo período e daqui a pouco perdem o interesse e com isso temos a evasão.
O Cerrado: E no DF? Temos crescido ou acompanhamos a tendência nacional de estagnação?
Alessandro: Nós temos crescido e inclusive criamos vários novos Grupos Escoteiros - também em comunidades menos assistidas - e isso é muito importante. Escotismo para todos. Precisamos facilitar o ingresso da pessoas no Movimento. Mesmo as classes menos privilegiadas do ponto de vista econômico têm sido atendidas. Por exemplo, nesta última gestão, que teve à frente o Rubem na presidência, nós criamos vários grupos. Temos crescido em termos de efetivo e principalmente temos mantido um baixo nível de evasão. Há cerca de dois anos atrás, tivemos publicada no relatório anual da UEB a constatação de que a Região do DF obteve o menor índice de evasão do país. Mesmo em toda essa conjuntura estamos crescendo e temos um índice de evasão que ainda é alto, mas é um dos menores do Brasil.
O Cerrado: Quais as perspectivas para o escotismo do DF e o que podemos esperar da nova Diretoria em termos de propostas?
Alessandro: Estamos criando, com relação a esta questão do crescimento, atendendo a uma recomendação do Fórum Regional de Jovens Líderes, o Núcleo de Crescimento, que vai funcionar como órgão assessor da Diretoria Regional. Esse núcleo vai trabalhar no processo de informação e de criação de novos Grupos Escoteiros, quer dizer, o apoio a novos grupos. O que é esta questão da informação? As pessoas se ressentem muito, em função de todo um processo histórico, de que houve um afastamento da Região com relação aos Grupos Escoteiros. Há um grande esforço de todos os que atuam no nível regional para estarmos mais presentes e atuantes nos Grupos, mas essa é uma carga de trabalho muito grande. Nós crescemos e a Região é diferente da Região que tínhamos há 10 anos atrás. Éramos poucos grupos e às vezes, em uma única tarde de sábado nós podíamos visitar todos os Grupos. Hoje em dia isso é impossível e nós temos que achar isso muito bom, pois é sinal que estamos crescendo. Mas em contrapartida isso cria um certo distanciamento e queremos com esse núcleo reatar os elos de ligação com os Grupos Escoteiros. Queremos também fortalecer o fórum de dirigentes, pois esse tipo de espaço é importante para a discussão e o entrosamento.
Outra novidade é a criação da diretoria de Relações Públicas e Institucionais. Essa diretoria trabalhará em pontos fundamentais para o Movimento: comunicação interna e acesso à mídia. Essa importante tarefa estará a cargo do Chefe Willer.
Entrando na questão administrativa temos uma novidade. O terreno do campo-escola finalmente irá pertencer à UEB. Com o título de propriedade na mão, temos condições de investir no terreno e revitalizar o campo-escola. À frente desse trabalho está o Chefe Maia, que tem uma difícil tarefa pela frente. Vamos trabalhar no processo de oferecer uma boa sede para a região do DF. Pretendemos dotar o terreno com uma infra-estrutura de campo para que os Grupos Escoteiros possam utilizar também em suas atividades.
O Cerrado: Certo. E os recursos para esta reforma?
Alessandro: Esse é um problema que teremos que trabalhar muito. Na diretoria financeira contaremos com a Chefe Marlene e vamos ampliar nossa loja escoteira; vamos diversificar os produtos para que haja uma maior captação de recursos. Iremos trabalhar também com um sistema de patrocínios e eventos específicos para a captação de recursos. Com a colaboração de todos, conseguiremos atingir esse objetivo.
O Cerrado: E a formação dos adultos? A Região está se preocupando com a atualização dos Escotistas? Há muitas novidades vindo pela frente. O que a diretoria estará fazendo?
Alessandro: Está assumindo a diretoria técnica o Chefe Tadeu. Tivemos inclusive, recentemente, um seminário com a equipe de formação para tratar dessa questão da transição, de como adaptar nossa sistemática à nova política de gestão de recursos adultos. Estamos em um processo de adaptação e posso dizer com tranqüilidade que nossos cursos são uns dos mais avançados do país em termos do conteúdo. Todo o conteúdo do MACPRO já está incorporado em nosso sistema de formação e a equipe regional de formação está trabalhando para esta adaptação.
O Cerrado: E para o jovem? O que o jovem pode esperar da nova diretoria? Há mais espaço para a participação?
Alessandro: Com relação à participação do jovem, a Região tem apoiado fortemente a realização dos fóruns de jovens líderes, acatando e discutindo as sugestões que vêm desses espaços. Consideramos isso uma questão fundamental. Temos inclusive incorporado jovens líderes à estrutura da Região e nesta nova gestão isso ocorrerá de uma maneira mais forte ainda. Temos o Dennys na coordenação do ramo escoteiro, o Jefferson na edição do informativo Escoteiro do Planalto, além de outros na elaboração da nova “home page”. Enfim, existe um processo de envolvimento, criando uma possibilidade de irmos mais adiante.
O Cerrado: Muito se vê na UEB o jovem líder como alguém estigmatizado e deixado em seu canto. É possível inserir o jovem no processo decisório junto com os adultos?
Alessandro: Não só é possível como é fundamental. Se não for assim, não faz o menor sentido. Entendemos que os fóruns são importantes, mas é necessário que haja envolvimento. Essa parceria dos jovens com aqueles que tem um pouco mais de experiência, essa soma é que faz com que tenhamos condições de ventilar o movimento, de trazer idéias novas e crescer.
O Cerrado: Que novidades podemos esperar desse escotismo virtual, ou melhor, do escotismo real na rede de computadores?
Alessandro: A Home Page da Região está ficando muito boa. Estão à frente do projeto o Jefferson e o Clóvis, que estão construindo uma página com uma série de recursos que vão oferecer muitas facilidades aos usuários de internet, em benefício do Movimento.
O Cerrado: Para o ano que vem temos como tema da UEB “Escotismo Voluntário”. Que podemos esperar da nova diretoria no que diz respeito a atuação na comunidade? Soubemos que já há contato com o núcleo do Amigos da Escola. Conte-nos um pouco sobre isso.
Alessandro: Precisamos mostrar o trabalho que o Movimento faz e necessitamos de uma atuação mais consistente na sociedade. Então já começamos uma parceria com o núcleo Amigos da Escola. Esse projeto envolve diversas entidades e a Região tem condições de apoiá-lo. Hoje em dia temos ligação com diversos organismos, como o Conen-DF, o CONANDA e o Centro de Voluntariado do DF. Estamos, neste momento, desenvolvendo uma parceria com o Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente. Queremos levar esse envolvimento aos Grupos Escoteiros, para que haja uma interação mais intensa com a comunidade.
O Cerrado: Nesse sentido podemos dizer que a UEB está querendo perder o caráter somente assistencialista?
Alessandro: Nós temos uma cultura em que as atividades com a comunidade se limitam àquelas chamadas boas ações coletivas. Íamos a determinada entidade entregávamos presentes e nunca mais aparecíamos. Essa é, também, uma atividade importante, pois há alegria por parte dos beneficiados e também os Escoteiros aprendem com uma realidade diferente da sua. Mas interagir com a comunidade vai muito além disso. Precisamos nos envolver de forma mais efetiva. Isso é complicado pois nossas estruturas estão um pouco enferrujadas, mas o caminho é esse. Se não interagirmos de forma eficiente com a comunidade, nós nunca conseguiremos mostrar o que realmente é e o que faz o Escotismo.
O Cerrado: Várias pessoas reclamam da imagem que a mídia às vezes passa do Movimento Escoteiro. O Escotismo precisa de investir em propaganda e marketing? Ele precisa ter uma assessoria de imprensa?
Alessandro: Esses são assuntos mais voltados para um processo de discussão nacional. Quer dizer, as Regiões não tem muitos recursos para isto. O nosso trabalho em termos de acesso à mídia é importante. As pessoas conhecem o Movimento pelo que chamo de “fachada”, ou seja, os Escoteiros acampam, fazem excursões e jogos. Normalmente não se tem a noção de que aquilo é ferramenta para um trabalho mais amplo que se desenvolve. É importante que a sociedade reconheça o Movimento como um interlocutor válido em assuntos educacionais. Temos uma grande experiência nesse processo de educação não-formal e é fundamental que mostremos isso à sociedade. E para isso precisamos do acesso à mídia. Todas as vezes que aparecemos nos veículos de informação, isso faz com que mais pessoas procurem o Movimento.
O Cerrado: O Plano de trazer o Jamboree Mundial de 2011 para o Brasil é viável?
Alessandro: Acho viável. É um trabalho difícil e que os companheiros de São Paulo estão encampando, ou seja, já buscando possíveis locais e recursos. É uma Região que tem uma grande estrutura e são pessoas dedicadas que estão atuando nisso. Acredito que se tivermos uma grande mobilização nacional temos condições de fazer um grande jamboree aqui no Brasil.
O Cerrado: Esse é o ponto: Mobilização Nacional. Vemos, infelizmente que União é o que menos temos. Parecemos, na verdade, uma Desunião de Escoteiros. Como um país onde os dirigentes nacionais não se entendem pode querer sediar um jamboree mundial?
Alessandro: Já discutimos muito esta questão da união e nesse assunto há dois grupos muito distintos. Alguns dizem que se tivermos uma direção nacional forte, teremos uma UEB forte - é um processo de centralização. Na minha opinião isso vai na contramão da história. Todas as entidades e grandes empresas hoje trabalham no processo de descentralização. Essa estrutura centralizada pode funcionar bem em países com dimensões pequenas, mas em países como o Brasil, isso não funciona. Somos um país com grandes diversidades e isso exige um bom processo de adaptação. Entendemos que, com Regiões fortes, trabalhando para a adaptação do Escotismo às realidades locais e tendo uma gestão participativa no nível nacional, teremos uma UEB forte. Esse é o segundo grupo, ao qual me filio. Com essa União forte, temos condição de fazer qualquer coisa, inclusive um grande jamboree mundial.
O Cerrado: Essas divergências ideológicas muitas vezes descambam em divergências pessoais e isso não atrapalha o escotismo nacional?
Alessandro: Nós temos que ter cuidado para que a discussão permaneça no campo das idéias. É em função da discussão e da participação que temos condições de crescer. E precisamos respeitar as idéias divergentes para que o Escotismo seja adaptado a cada realidade desse país enorme.
O Cerrado: Muitos adultos dizem que a região é uma “panelinha” e não fazem nada para mudar. O que você diz para essas pessoas que não gostam de participar?
Alessandro: Nesses últimos anos temos trazido muitas pessoas novas para atuar no nível regional. São várias pessoas que nunca haviam atuado na Região e estão colaborando, pois muito mais que um cargo, os diretores e coordenadores têm uma carga de responsabilidade e trabalho muito grande. Quanto mais gente colaborando, melhor. A Região está aberta. Todas as pessoas que procuram a Região com a intenção de colaborar, com uma idéia para discutir, são bem vindas. Essa visão de que não há espaço é uma visão de quem não conhece o processo. Não há “panelinha”. O que há é um grupo de pessoas disposto a trabalhar e aberto a qualquer um que queira colaborar de maneira positiva. Aliás, um grupo que vem se renovando a cada ano, cada vez com novas e importantes adesões. A Região precisa do trabalho e da dedicação de todos nós.
O Cerrado: O que você diz para esse pessoal que está meio sem esperança lá no Grupo Escoteiro? Deixe uma mensagem para entrarmos o milênio realmente fazendo do escotismo o maior movimento de juventude organizada do mundo.
Alessandro: Como qualquer entidade, nós passamos por altos e baixos. Alguns dos problemas que vivemos hoje nos Grupos, são reflexo de determinadas políticas nacionais que adotamos há alguns anos. Estou absolutamente convencido de que há perspectiva de melhora. Não percamos a esperança! É como ocorre em uma corte de honra, que em determinados momentos conta com monitores que têm grande vivência e tudo vai muito bem, mas quando eles passam para o ramo seguinte, a corte de honra passa a enfrentar determinadas dificuldades. Da mesma forma o Escotismo tem altos e baixos e nos momentos difíceis devemos erguer a cabeça e buscar melhorar. Enfim, discutir, participar e buscar soluções em conjunto. Quero dizer que cada um deve arregaçar as mangas e participar. Realmente passamos por momentos complicados, mas acho que o pior já ficou para trás. Já superados muitas coisas. Estamos vivendo um período de transição e sem dúvida, tempos melhores virão.
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